Modernização do setor elétrico inclui energia mais barata, diz Ipea
Novas tecnologias levam à possibilidade de uso de novos equipamentos que proporcionam novas formas de serviços e de relações comerciais. A exemplo da telefonia, o setor de energia também a por esse processo e, diante dele, tem procurado atualizar a legislação. Este foi o tema debatido hoje (24) durante o Ciclo de Palestras sobre Legislação e PolÃticas Públicas â evento promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). âQuando se fala em modernização e liberalização do setor elétrico, na minha cabeça tem, na ponta, energia mais barata para empresas e consumidoresâ, disse o presidente do Ipea, Erik Alencar de Figueiredo, ao dar inÃcio ao evento que teve, como foco central, o Projeto de Lei 414/2021 que, segundo o governo, pode ajudar a modernizar o setor, caso seja aprovado. O presidente do Ipea, Erik Figueiredo, e a diretora de Programa da Secretaria Executiva do Ministério de Minas e Energia, Camilla Fernandes, durante ciclo de palestras sobre a modernização do setor elétrico - Marcelo Camargo/Agência Brasil Entre as possibilidades previstas pelo projeto, está a de permitir, ao pequeno consumidor, liberdade para escolher quem será seu fornecedor de energia. Na teoria, caso haja um mercado realmente competitivo, a expectativa é que a consequência disso sejam preços mais baixos para o consumidor final. Essa liberdade de escolha já é praticada por grandes e médios consumidores â em geral, indústrias â que adquirem energia via livre mercado. O desafio será o de estender aos pequenos consumidores essa possibilidade. Consumidor brasileiro Para que isso seja possÃvel, no entanto, é necessário, antes de tudo, entender quem é esse pequeno consumidor. âTemos muitos brasileiros com renda próxima a um salário mÃnimo. Isso reflete a vida mediana dos brasileiros. E há brasileiros cuja despesa com energia elétrica é bastante expressiva em termos de orçamento. Para boa parte desses brasileiros, pelo menos 10% da renda é comprometida com energia elétricaâ, disse o presidente do Ipea ao apresentar alguns dos dados coletados pelo instituto. Segundo ele, conhecer esses brasileiros cujas despesas com energia elétrica e com gás de cozinha são consideráveis âé vital para que as pessoas que conduzem as polÃticas públicas no Brasil tornem essas polÃticas provedoras de bem-estar socialâ. Indicadores de regulação De acordo com um levantamento apresentado pelo diretor de Estudos e PolÃticas Regionais, Urbanas e Ambientais do Ipea, Nilo Luiz Saccaro Junior, os indicadores de regulação do setor elétrico brasileiro estão muito abaixo dos observados nos paÃses integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). âNo setor de eletricidade, o valor indicador do Brasil [2,06 pontos, em uma escala onde, quanto menor for o número, melhor a situação] é 42% superior à média dos paÃses da OCDE, que era 1,45 ponto, enquanto a média dos cinco melhores paÃses era 0,39â, disse. âNo setor de gás natural, os números são ainda piores para o Brasil, que teve 2,99 pontos contra 1,35 da média da OCDEâ, acrescentou. Mudanças inevitáveis Segundo a diretora de Programa da Secretaria Executiva do Ministério de Minas e Energia (MME), Camilla Fernandes, a indústria de energia elétrica está ando por âmudanças cada vez mais profundasâ não apenas no Brasil. A diretora de Programa da Secretaria Executiva do Ministério de Minas e Energia, Camilla Fernandes, durante ciclo de palestras sobre a modernização do setor elétrico - Marcelo Camargo/Agência Brasil âEssas mudanças são inevitáveis. Estamos falando de fontes renováveis; soluções tecnologias; novas formas de gerar energia; novos modelos de negócio; novas formas de interação com o consumidor. à algo que já está acontecendo em todo o mundoâ, disse. Ela lembrou que, no Brasil, já existem mais de 1 milhão de unidades com geração distribuÃda instaladas que geram quase 11 gigawatts (GW) de energia. Geração distribuÃda é uma modalidade na qual a energia gerada em residências ou condomÃnios â a partir da energia solar coletada via placas fotovoltaicas, por exemplo â pode ser reada a outros consumidores. Essa energia reada ao sistema pode então compensar parte da energia consumida pela unidade que a gerou, diminuindo os gastos com a conta de luz. âEnergias renováveis descentralizadas de pequeno porte espalhadas já são uma realidade no Brasilâ, destacou a secretária do MME, ao elogiar uma outra medida prevista no PL 414: a possibilidade de os consumidores escolherem de quem comprarão a energia elétrica. Segundo ela, na forma como se encontra, o projeto tem o apoio do ministério, uma vez que âleva em conta todo trabalho que fizemos e a atualização de nossos estudos visando os avanços legaisâ. âAguardamos avanços no Legislativo. O desafio da implementação e organização do setor é, na verdade, o desafio de equilibrar consenso, porque precisamos de consenso no setor, com segurança regulatória

Novas tecnologias levam à possibilidade de uso de novos equipamentos que proporcionam novas formas de serviços e de relações comerciais. A exemplo da telefonia, o setor de energia também a por esse processo e, diante dele, tem procurado atualizar a legislação. Este foi o tema debatido hoje (24) durante o Ciclo de Palestras sobre Legislação e PolÃticas Públicas â evento promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
âQuando se fala em modernização e liberalização do setor elétrico, na minha cabeça tem, na ponta, energia mais barata para empresas e consumidoresâ, disse o presidente do Ipea, Erik Alencar de Figueiredo, ao dar inÃcio ao evento que teve, como foco central, o Projeto de Lei 414/2021 que, segundo o governo, pode ajudar a modernizar o setor, caso seja aprovado.
Entre as possibilidades previstas pelo projeto, está a de permitir, ao pequeno consumidor, liberdade para escolher quem será seu fornecedor de energia. Na teoria, caso haja um mercado realmente competitivo, a expectativa é que a consequência disso sejam preços mais baixos para o consumidor final.
Essa liberdade de escolha já é praticada por grandes e médios consumidores â em geral, indústrias â que adquirem energia via livre mercado. O desafio será o de estender aos pequenos consumidores essa possibilidade.
Consumidor brasileiro
Para que isso seja possÃvel, no entanto, é necessário, antes de tudo, entender quem é esse pequeno consumidor. âTemos muitos brasileiros com renda próxima a um salário mÃnimo. Isso reflete a vida mediana dos brasileiros. E há brasileiros cuja despesa com energia elétrica é bastante expressiva em termos de orçamento. Para boa parte desses brasileiros, pelo menos 10% da renda é comprometida com energia elétricaâ, disse o presidente do Ipea ao apresentar alguns dos dados coletados pelo instituto.
Segundo ele, conhecer esses brasileiros cujas despesas com energia elétrica e com gás de cozinha são consideráveis âé vital para que as pessoas que conduzem as polÃticas públicas no Brasil tornem essas polÃticas provedoras de bem-estar socialâ.
Indicadores de regulação
De acordo com um levantamento apresentado pelo diretor de Estudos e PolÃticas Regionais, Urbanas e Ambientais do Ipea, Nilo Luiz Saccaro Junior, os indicadores de regulação do setor elétrico brasileiro estão muito abaixo dos observados nos paÃses integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
âNo setor de eletricidade, o valor indicador do Brasil [2,06 pontos, em uma escala onde, quanto menor for o número, melhor a situação] é 42% superior à média dos paÃses da OCDE, que era 1,45 ponto, enquanto a média dos cinco melhores paÃses era 0,39â, disse.
âNo setor de gás natural, os números são ainda piores para o Brasil, que teve 2,99 pontos contra 1,35 da média da OCDEâ, acrescentou.
Mudanças inevitáveis
Segundo a diretora de Programa da Secretaria Executiva do Ministério de Minas e Energia (MME), Camilla Fernandes, a indústria de energia elétrica está ando por âmudanças cada vez mais profundasâ não apenas no Brasil.
âEssas mudanças são inevitáveis. Estamos falando de fontes renováveis; soluções tecnologias; novas formas de gerar energia; novos modelos de negócio; novas formas de interação com o consumidor. à algo que já está acontecendo em todo o mundoâ, disse.
Ela lembrou que, no Brasil, já existem mais de 1 milhão de unidades com geração distribuÃda instaladas que geram quase 11 gigawatts (GW) de energia.
Geração distribuÃda é uma modalidade na qual a energia gerada em residências ou condomÃnios â a partir da energia solar coletada via placas fotovoltaicas, por exemplo â pode ser reada a outros consumidores. Essa energia reada ao sistema pode então compensar parte da energia consumida pela unidade que a gerou, diminuindo os gastos com a conta de luz.
âEnergias renováveis descentralizadas de pequeno porte espalhadas já são uma realidade no Brasilâ, destacou a secretária do MME, ao elogiar uma outra medida prevista no PL 414: a possibilidade de os consumidores escolherem de quem comprarão a energia elétrica.
Segundo ela, na forma como se encontra, o projeto tem o apoio do ministério, uma vez que âleva em conta todo trabalho que fizemos e a atualização de nossos estudos visando os avanços legaisâ.
âAguardamos avanços no Legislativo. O desafio da implementação e organização do setor é, na verdade, o desafio de equilibrar consenso, porque precisamos de consenso no setor, com segurança regulatória e estabilidade jurÃdica, além de cumprimento dos contratos, de qualidade, porque não dá para ser amador nesse ambiente, e de tempo. São critérios que se opõem, mas mudar o normativo é realmente uma necessidade que se impõe para atender a realidade no setorâ, argumentou a secretária.
Acima da inflação
Participante do encontro, o vice-presidente de Estratégia e Comunicação da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), Bernardo Sicsú, apresentou um estudo segundo o qual a conta de luz residencial aumentou âmais que o dobro da inflação entre 2014 e 2021â.
âNesse perÃodo, a conta de luz teve aumento 237% maior do que o do IPCA [Ãndice que mede a inflação]. Nesse mesmo perÃodo, os preços do mercado livre ficaram 25% abaixo do IPCAâ, disse o representante da Abraceel, ao comparar os Ãndices cobrados nas contas de luz de pequenos consumidores (no caso, residenciais), aos cobrados de médio e grandes consumidores no mercado livre, onde há possibilidade de se escolher quem será o fornecedor de energia.
Citando pesquisas feitas em 2021 pela Abraceel, Sicsú disse que oito em cada dez brasileiros gostariam de escolher seus fornecedores de energia; e que sete em cada dez trocariam de fornecedores, se tivessem oportunidade.
âAbrir o mercado significa, tendo como base dados de consultorias renomadas de mercado, uma redução, no componente energia ao negociá-la livremente, da ordem de 27%. Na conta de luz, a redução seria de 15%â, afirmou.
Fatores
A possibilidade de pequenos consumidores adquirirem energia no mercado livre foi um dos fatores identificados pelo estudo do Ipea para entender as discrepâncias entre os indicadores brasileiros e os dos paÃses da OCDE.
âEm todos paÃses [da OCDE] e também no Brasil já temos a liberdade de escolha para os grandes e médios consumidores, mas só para o Brasil não temos a liberdade de escolha para os pequenos consumidores, que têm em sua grande maioria os consumidores residenciais e comerciaisâ, explica Nilo Saccaro.
Na avaliação do pesquisador, o fim do mercado cativo é âfundamental para que as questões competitivas ocorram após a privatização de estataisâ. Ele, no entanto, pondera que âcativar sem modernizar o marco regulatório faz correr o risco de o monopólio ser mantidoâ.
âPrivatização é necessária, mas não suficiente. Precisa vir acompanhada da modernização regulatória e da abertura do mercadoâ, disse.
Ainda segundo o diretor de Estudos e PolÃticas Regionais, melhor regulação não é necessariamente mais regulação. âRegulação excessiva ou complexa pode se tornar uma barreira para a entrada aos novos concorrentesâ, completou.
Verticalização da cadeia
Um outro fator citado por ele é a chamada âverticalização da cadeiaâ, na qual um pequeno grupo de empresas domina vários elos da cadeia de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.
Por fim, ele cita a dificuldade para a venda de participações acionárias. âNo Brasil se precisa inclusive de autorização do Congresso Nacional, o que não ocorre nos outros paÃses pesquisados.â