Consumo de álcool na gestação traz riscos para bebê, afirma médica
 âSe você bebe, o seu bebê também bebeâ é o tema da campanha da Associação Brasileira de Estudos do Ãlcool e Outras Drogas (Abead) que visa alertar mulheres grávidas para os riscos que o consumo de bebidas alcoólicas na gestação pode trazer para os filhos. âEsse é o nosso foco de interesse, de ação in advocacy (lobby do bem)â, disse a presidente da Abead, Alessandra Diehl. A entidade busca prevenir sobre o álcool na gestação, para evitar o que os especialistas chamam de SÃndrome Alcoólica Fetal (SAF). No Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, lembrado hoje (18), a psiquiatra destaca os riscos de desenvolvimento da SAF, que ainda é subnotificada no Brasil e subtratada, por não ser identificada durante a gestação. Segundo ela, não existe informação, principalmente para quem trabalha na rede de atenção primária à saúde e que faz o pré-natal, âque são as enfermeiras, os ginecologistasâ, para identificar a mulher que está bebendo. A SAF tem alto impacto na vida da criança, da mãe, do pai e da sociedade como um todo. De acordo com a Abead, não existe bebê seguro durante a gestação porque qualquer quantidade de bebida pode trazer complicações que incluem retardo mental, microcefalia, baixo peso ao nascer, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, além de complicações gestacionais. Estudos mostram que entre 12% e 22 % das mulheres grávidas apresentam históricos de consumo de álcool durante a gravidez. Essa ingestão de álcool pode variar de beber ocasionalmente ao consumo excessivo semanal e até ao uso crônico durante os nove meses da gestação. A Abead defende medidas preventivas para o uso de álcool por mulheres grávidas devido ao risco de desenvolvimento da SAF. A estimativa é de que cerca de 1,5 mil a 6 mil crianças nasçam com SAF todos os anos no Brasil. A Abead sugere, entre as medidas preventivas, a adoção de rótulos de advertência sobre o álcool nas embalagens das bebidas, utilizando-os como ferramentas para aumentar a conscientização sobre os riscos gerados pelo produto. Também recomenda abordagens mais amplas de polÃticas públicas para o controle do consumo, com informações direcionadas ao público-alvo e especÃficas sobre beber na gestação. A entidade apoia o Projeto de Lei (PL) 4.259/2020, em tramitação na Câmara dos Deputados, que institui o sistema de prevenção à SÃndrome Alcoólica Fetal, bem como dispõe sobre a obrigatoriedade de advertência dos riscos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas durante a gravidez. âà uma das primeiras iniciativas que começam a colocar a advertência em bebidas alcoólicas, indicando que a mulher não pode beber, como já existe em outros paÃses. Acho que isso pode ajudarâ, afirmou Alessandra. Adolescentes Para a presidente da Abead, outro problema que deve ser atacado sem demora por meio de polÃticas públicas é o consumo de álcool cada vez mais cedo entre os jovens. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgada em setembro do ano ado, 34,6% dos estudantes consultados haviam experimentado bebida alcóolica pela primeira vez antes dos 14 anos, sendo o percentual maior entre meninas (36,8%) do que entre meninos (32,3%). Mais de 63% dos estudantes entrevistados tomaram uma dose de bebida alcoólica em 2019, contra 61,4% em 2016. O Terceiro Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgado em 2019, confirmou a dependência de álcool entre adolescentes. Segundo o estudo, 7 milhões de brasileiros menores de 18 anos, ou o correspondente a 34,3%, disseram já ter consumido bebida alcoólica na vida, sendo que 119 mil jovens entre 12 e 17 anos apresentavam algum tipo de vÃcio em álcool. âà um fenômeno mundialâ, disse Alessandra Diehl. Os jovens estão bebendo cada vez mais cedo. A PeNSE mostra claramente que eles começam em torno dos 14 anosâ. O hábito entre mulheres, que começa quando jovens e se perpetua, também preocupa a Abead, que vem chamando a atenção para o fenômeno há algum tempo. No entanto, segundo a presidente da entidade, não há correspondência em termos de polÃticas públicas que olhem para essa questão do gênero. âAcho que esse é o nosso gap (lacuna) aqui no Brasilâ. Alessanda advertiu que embora haja no paÃs uma legislação que proÃbe a venda de bebidas para adolescentes, os jovens conseguem comprar bebidas alcoólicas facilmente. âà fácil e não há fiscalizaçãoâ, afirmou. Sacolé A psiquiatra lembrou que um novo produto acaba de ser lançado, em parceria com uma indústria de bebidas, apresentando teor alcoólico de 7,9%. âà um geladinho que contém álcool, tem colorido muito interessante e que atrai, sem dúvida, o jovem. Quero ver como vai ser a fiscalização para a venda desse produto, com teor alcoólico de 7%. São coisas que vão causando impacto entre para a iniciação precoce no Brasilâ. Na sua opinião, uma parcela significativa desses jovens vai evoluir para uso mais regular e um padrão de dependência. Por si só, acrescentou, o alcoolismo já é um proble

 âSe você bebe, o seu bebê também bebeâ é o tema da campanha da Associação Brasileira de Estudos do Ãlcool e Outras Drogas (Abead) que visa alertar mulheres grávidas para os riscos que o consumo de bebidas alcoólicas na gestação pode trazer para os filhos. âEsse é o nosso foco de interesse, de ação in advocacy (lobby do bem)â, disse a presidente da Abead, Alessandra Diehl. A entidade busca prevenir sobre o álcool na gestação, para evitar o que os especialistas chamam de SÃndrome Alcoólica Fetal (SAF).
No Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, lembrado hoje (18), a psiquiatra destaca os riscos de desenvolvimento da SAF, que ainda é subnotificada no Brasil e subtratada, por não ser identificada durante a gestação. Segundo ela, não existe informação, principalmente para quem trabalha na rede de atenção primária à saúde e que faz o pré-natal, âque são as enfermeiras, os ginecologistasâ, para identificar a mulher que está bebendo.
A SAF tem alto impacto na vida da criança, da mãe, do pai e da sociedade como um todo. De acordo com a Abead, não existe bebê seguro durante a gestação porque qualquer quantidade de bebida pode trazer complicações que incluem retardo mental, microcefalia, baixo peso ao nascer, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, além de complicações gestacionais.Â
Estudos mostram que entre 12% e 22 % das mulheres grávidas apresentam históricos de consumo de álcool durante a gravidez. Essa ingestão de álcool pode variar de beber ocasionalmente ao consumo excessivo semanal e até ao uso crônico durante os nove meses da gestação. A Abead defende medidas preventivas para o uso de álcool por mulheres grávidas devido ao risco de desenvolvimento da SAF. A estimativa é de que cerca de 1,5 mil a 6 mil crianças nasçam com SAF todos os anos no Brasil.
A Abead sugere, entre as medidas preventivas, a adoção de rótulos de advertência sobre o álcool nas embalagens das bebidas, utilizando-os como ferramentas para aumentar a conscientização sobre os riscos gerados pelo produto. Também recomenda abordagens mais amplas de polÃticas públicas para o controle do consumo, com informações direcionadas ao público-alvo e especÃficas sobre beber na gestação. A entidade apoia o Projeto de Lei (PL) 4.259/2020, em tramitação na Câmara dos Deputados, que institui o sistema de prevenção à SÃndrome Alcoólica Fetal, bem como dispõe sobre a obrigatoriedade de advertência dos riscos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas durante a gravidez. âà uma das primeiras iniciativas que começam a colocar a advertência em bebidas alcoólicas, indicando que a mulher não pode beber, como já existe em outros paÃses. Acho que isso pode ajudarâ, afirmou Alessandra.
Adolescentes
Para a presidente da Abead, outro problema que deve ser atacado sem demora por meio de polÃticas públicas é o consumo de álcool cada vez mais cedo entre os jovens. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgada em setembro do ano ado, 34,6% dos estudantes consultados haviam experimentado bebida alcóolica pela primeira vez antes dos 14 anos, sendo o percentual maior entre meninas (36,8%) do que entre meninos (32,3%). Mais de 63% dos estudantes entrevistados tomaram uma dose de bebida alcoólica em 2019, contra 61,4% em 2016.
O Terceiro Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgado em 2019, confirmou a dependência de álcool entre adolescentes. Segundo o estudo, 7 milhões de brasileiros menores de 18 anos, ou o correspondente a 34,3%, disseram já ter consumido bebida alcoólica na vida, sendo que 119 mil jovens entre 12 e 17 anos apresentavam algum tipo de vÃcio em álcool.
âà um fenômeno mundialâ, disse Alessandra Diehl. Os jovens estão bebendo cada vez mais cedo. A PeNSE mostra claramente que eles começam em torno dos 14 anosâ.
O hábito entre mulheres, que começa quando jovens e se perpetua, também preocupa a Abead, que vem chamando a atenção para o fenômeno há algum tempo. No entanto, segundo a presidente da entidade, não há correspondência em termos de polÃticas públicas que olhem para essa questão do gênero. âAcho que esse é o nosso gap (lacuna) aqui no Brasilâ.
Alessanda advertiu que embora haja no paÃs uma legislação que proÃbe a venda de bebidas para adolescentes, os jovens conseguem comprar bebidas alcoólicas facilmente. âà fácil e não há fiscalizaçãoâ, afirmou.
Sacolé
A psiquiatra lembrou que um novo produto acaba de ser lançado, em parceria com uma indústria de bebidas, apresentando teor alcoólico de 7,9%. âà um geladinho que contém álcool, tem colorido muito interessante e que atrai, sem dúvida, o jovem. Quero ver como vai ser a fiscalização para a venda desse produto, com teor alcoólico de 7%. São coisas que vão causando impacto entre para a iniciação precoce no Brasilâ. Na sua opinião, uma parcela significativa desses jovens vai evoluir para uso mais regular e um padrão de dependência. Por si só, acrescentou, o alcoolismo já é um problema de saúde pública imenso.
O professor de psiquiatria da PontifÃcia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Jorge Jaber Filho, se referiu também a essa espécie de sacolé, com 7,9% de teor alcoólico, cujas amostras estão sendo distribuÃdas no paÃs gratuitamente e que pode estimular o uso por adolescentes.
Jaber advertiu que as principais causas de morte de jovens nas grandes cidades são os acidentes, especialmente de trânsito, que envolvem consumo de álcool não só pelo condutor do veÃculo mas também pelos menores de idade na via pública. Em segundo lugar, aparecem os homicÃdios e, na terceira posição, o aumento de suicÃdio entre jovens que utilizam álcool e substâncias quÃmicas, sendo o álcool em maior quantidade. âEm termos de saúde pública entre os jovens brasileiros, a liberação do álcool é devastadora, porque envolve as três principais causas de morteâ, disse o psiquiatra.
Recomendações
Uma das recomendações feitas pela presidente da Abead no Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo é que os pais devem estar atentos ao comportamento de beber dentro de casa, porque as crianças tendem a imitar o exemplo dos adultos. âSe a gente consegue postergar a iniciação de beber na adolescência, se o jovem começar a experimentação acima dos 18 ou 21 anos, as chances desse adolescente vir a desenvolver dependência diminuem em 50%. Essa é questão importanteâ. Para Alessandra, isso tem a ver também com propaganda, fiscalização da venda de bebida alcoólica, ou seja, diminuição da demanda.
Segundo a médica, é preciso aumentar os fatores de proteção, entre eles o convÃvio com atividades mais saudáveis que não incluam bebida alcoólica e o aumento de práticas relacionadas à prevenção ao consumo de álcool, como a realização de refeições em famÃlia. âParece pouco. Mas há uma série de estudos que avaliaram o quanto fazer refeições em famÃlia previne o uso de álcool e outras drogas, principalmente no contexto brasileiroâ. Incentivo à leitura, religiosidade, espiritualidade, educação, menos jogos e convÃvio com áreas que não utilizam bebida são outras indicações da presidente da Abead.
Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que está em elaboração uma linha de cuidados sobre álcool e drogas para lançamento no próximo mês de abril.
Permissividade
Jorge Jaber Filho lembrou ainda que é comum o consumo de álcool começar dentro da própria famÃlia. Argumentou que muitos pais acham que o fato de o filho tomar uma cerveja não tem nenhum problema quando, na verdade, estão estimulando o uso do produto que traz efeitos negativos para a saúde orgânica e mental. âDe maneira geral, a sociedade é muito permissiva com o uso do álcoolâ.
Para ele, embora a venda de bebidas alcoólicas seja proibida para menores, o que ocorre é um desrespeito à lei, atingindo uma atividade alarmante, que é a venda de bebidas para adolescentes em postos de gasolina. O mesmo acontece em festas e shows, onde é comum ver jovens com garrafas de refrigerante contendo bebidas alcoólicas misturadas. âNão há nenhuma manifestação da sociedade para coibir isso. à considerado normalâ.