Tribuna Livre: Professor José do Carmo fala sobre o reconhecimento da Aquarela do Brasil como Patrimônio Imaterial da Humanidade e do Memorial de Ary Barroso

Tribuna Livre: Professor José do Carmo fala sobre o reconhecimento da Aquarela do Brasil como Patrimônio Imaterial da Humanidade e do Memorial de Ary Barroso

Na reunião ordinária da Câmara Municipal de Ubá desta segunda-feira (31), o Professor José do Carmo de Araújo usou a Tribuna Livre para falar sobre o reconhecimento da Aquarela do Brasil como Patrimônio Imaterial da Humanidade e do Memorial de Ary Barroso no Paço Municipal.

 “Boa noite, Sr. Presidente, vereadores e vereadoras, público presente e pessoas que acompanham na rede social. É oportuno a minha participação na tribuna livre para que possamos relatar o empenho que nós buscamos nos últimos cinco anos para conseguir o reconhecimento da Aquarela como Patrimônio Imaterial da Humanidade e, ao mesmo tempo, a possibilidade de termos um Memorial do Ary Barroso em nossa cidade.

Ressalto o que nós falamos hoje em fake news, mas o Ary Barroso foi uma das pessoas mais injustiçadas em Ubá a partir de 1951, quando ele veio para fazer a campanha do Brigadeiro Eduardo Gomes, que naquela oportunidade disputava a presidência da República juntamente com Getúlio Vargas.

O Ary Barroso já era uma pessoa muito famosa, já era um político reconhecido em todo o estado do Rio de Janeiro e já era um músico conhecido mundialmente em função da Aquarela que havia sido lançada em 1939. Os políticos da cidade naquele momento refutaram a participação do Ary Barroso em Ubá para fazer a campanha para o Brigadeiro Eduardo Gomes, tendo em vista que os políticos de Ubá apoiavam Getúlio Vargas. O Ary Barroso, sabendo que Getúlio Vargas era um ditador sanguinário e incorrigível, ele continuou fazendo a campanha para o Brigadeiro Eduardo Gomes.

Nós só tínhamos uma emissora de rádio em Ubá e naquela oportunidade começaram a falar na emissora de rádio que o Ary Barroso não gostava de Ubá. Desde então, criou-se essa narrativa, que é uma narrativa falsa, porque o Ary Barroso vinha a Ubá todos os finais de semana, reunia com os amigos de infância, porque ele saiu de Ubar aos 17 anos e no período em que ele saiu de Ubá, ele foi muito criticado porque era uma pessoa que vivia na boemia, mesmo aos 17 anos, resolveu ir para o Rio de Janeiro, já era órfão de pai e mãe, recebeu uma herança do tio avô, que é o Sabino Barroso e ele conseguiu se tornar essa pessoa famosa que nós todos conhecemos.

E ao longo dos últimos cinco anos, eu venho fazendo estudos, inclusive visitei a região onde a família do Ary Barroso é de origem, que é a região do Serro, tem uma cidade chamada Sabinópolis, que é em homenagem ao Sabino Barroso, que foi contemporâneo de políticos importantes no município de Ubá.

E o pai do Ary Barroso veio do Serro, que ele era um promotor, veio atuar em Rio Pomba e por pouco o Ary Barroso não nasce em Rio Pomba, porque a família do Ary Barroso nesse período morava em Rio Pomba, a família da mãe dele que é de Ubá, que é a família do senhor Augusto Rezende, que foi prefeito do município.

Então é uma situação a qual a gente já vem desenvolvendo um trabalho de pesquisa. No ano de 2019, nós montamos o projeto Ubá na Aquarela, que foi as comemorações dos 80 anos da Aquarela do Brasil. Enfrentamos muita dificuldade na implementação do projeto Ubá na Aquarela, mas conseguimos caminhar com o projeto, com a participação efetiva das escolas, fizemos mais de 6 mil folders distribuindo para alunos, tivemos o 7 de setembro com a participação das escolas, movimentou todas as escolas o 7 de setembro daquele ano e nós conseguimos avançar.

No início do ano de 2022, eu estava proferindo uma palestra na cidade de Contagem e, naquela oportunidade, a cônsul dos Estados Unidos, Katherine Earhart Ordoñez, estava na plateia e, ouvindo o discorrer sobre a história de Minas Gerais, ao final da minha palestra, ela me abordou e disse que tinha interesse que nós montássemos um projeto em conjunto. Como eu tinha que voltar para Ubá, que eu tinha compromisso em Viçosa, que eu trabalho como historiador na cidade de Viçosa, que é um instituto, que eu tenho 4 livros publicados, 2 livros premiados, eu tinha que voltar para Viçosa, imediatamente eu terminei a palestra, conversamos, entreguei um cartão e vim para Viçosa.

Antes de eu chegar em Viçosa, vi no meu WhatsApp, já tinha uma mensagem da cônsul dos Estados Unidos, nós precisamos marcar um encontro. Eu respondi imediatamente, na semana seguinte, fui até Belo Horizonte e a proposta que ela tinha era a seguinte, nós vamos comemorar 200 anos de amizade entre Brasil e Estados Unidos em 2024, eu gostaria que você montasse um projeto que tivesse uma relevância. Então, eu sugeri dois projetos naquela oportunidade, sugeri que nós falássemos sobre Tiradentes e Thomas Jefferson, Tiradentes permaneceu uma boa parte da vida dele como alferes na Zona da Mata, e sugeri Ary Barroso, por conta da ligação do Ary Barroso com o Walt Disney.

Ela optou por Ary Barroso e a partir daí nós começamos a desenvolver um projeto. Eu pensei que nós íamos encontrar facilidade e, na verdade, encontramos muitas dificuldades para conseguir caminhar com o projeto em Ubá, de reconhecimento da Aquarela e, sobretudo do Memorial. Tivemos muitas dificuldades, muitas tentativas de sabotagem e nós conseguimos envolver a embaixada dos Estados Unidos, o Dr. Jarbas Soares, que era o procurador do Estado naquele período, ele teve uma audiência em Viçosa, nós comentamos com ele da possibilidade, ele falou da felicidade do Ministério para poder participar, nós temos um procurador do Estado, que é o Dr. Jacques Campomizzi, que é ubaense, ele, no encontro em Ubá, ele falou, professor, eu quero participar do projeto do Ary Barroso por conta da relevância e por tudo que ele representa.

Aí, desde então, nós conseguimos reunir um grupo significativo de autoridade, de pessoas que tinham condições de dar um contributo. Ao final de 2023, eu tinha uma audiência no Ministério da Cultura, justamente para tratar do reconhecimento da Aquarela, mas, sobretudo, também de um Memorial do Ary Barroso. Nós ansiamos muito por cultura, os meninos estão reclamando por cultura no município de Ubá, nós temos, para além do Ary Barroso, uma enormidade de personalidades importantes que tem condições, a gente ter um projeto de cultura de relevância, mas a gente encontra sempre dificuldade por conta da sabotagem de algumas pessoas do município.

Então, apresentamos a proposta em Brasília, mas no dia da audiência no Ministério, fui solicitado para um compromisso no Ministério Público em Ubá, então eu tive que cancelar, mas naquela oportunidade, o Dr. André Squizzato, que é um advogado de Ubá, ele ia ter uma audiência e nós íamos juntos para essa audiência para o Ministério. Então eu fiz um resumo da qual proposta nós teríamos para o reconhecimento da Aquarela, mas, sobretudo, também do Memorial do Ary Barroso. Para a felicidade nossa, ele apresentou para o secretário executivo, o Dr. Amaury Teixeira, a proposta que nós havíamos enviado para o Ministério, e ele resolveu fazer uma leitura, porque era um resumo de nove páginas que eu procurei sintetizar o que era necessário no mesmo momento que ele recebeu, resolveu fazer uma leitura e eu recebi a ligação ainda na audiência, no fórum, de que o pré-projeto tinha sido aprovado.

Então nós temos o apoio da Embaixada dos Estados Unidos, não só do Consulado, mas da Embaixadora dos Estados Unidos, o ano ado eu tive uma audiência com a Embaixadora, solicitada por ela, a Adida Cultural dos Estados Unidos teve em Ubá, juntamente com a Consul dos Estados Unidos, no final de 2023. Então assim, nós temos toda uma estrutura para poder, temos o reconhecimento da Aquarela, porque são por etapas, a primeira etapa de aprovação em Ubá, nós conseguimos com muita dificuldade aprovar o ano ado o reconhecimento da Aquarela. Apresentamos um dossiê para o Dr. Fábio Noliano, que era o promotor, que eu ia desistir, realmente, porque é um trabalho muito cansativo, a pesquisa demanda anos, não é uma pesquisa que você abre um livro e encontra toda a documentação.

São documentos espalhados para vários lugares, tem documentos na Biblioteca Nacional, no Arquivo Público Mineiro, tem documentos em Ouro Preto, porque Ouro Preto era a capital, então muitos documentos do período ficaram em Ouro Preto, tem documentos até na Torre do Tombo em Portugal. Então a vida do historiador não é tão simples, muita gente fala, sua vida é muito boa porque você viaja para muitos lugares, mas viaja para muitos lugares e muitas das vezes eu nem vou em nenhum evento daquela cidade, porque eu o o meu dia pesquisando, se eu viajo para outros estados, o dia pesquisando, lendo documentos, e é um desafio muito grande porque tem o português, as mudanças que aconteceram no português a partir de 1930, então você lê no português arcaico, você lê no português várias fases do português, então não é uma tarefa tão simples de historiador.

E a gente conseguiu reunir todas essas autoridades, todos esses grupos, e no início desse ano eu encontrei com o Antônio Geraldo, que já conhece o meu trabalho, e é o secretário de Governo e de Planejamento, ele me procurou, e sabendo do projeto eu entreguei o mesmo dossiê para o Antônio Geraldo que eu entreguei para o Ministério Público, e o promotor pediu que eu não desistisse do projeto, porque nós precisávamos desse projeto em andamento.

Apresentei o dossiê para o secretário de istração, que é o Salomão esse ano, e tivemos uma audiência com o prefeito Damato, em que ele disse para nós marcarmos a data para do dossiê. Então acredito que até o final da semana nós já vamos ter a data porque nós fizemos o contato no Ministério, porque nós dependemos do Ministério marcar a data para que possamos marcar uma audiência em Ubá, com a participação de todos os vereadores, a Célia e Celma Mazzei são duas figuras importantíssimas para o projeto, porque elas fizeram um estudo em 1996 sobre toda a obra musical do Ary Barroso, elas lançaram um CD, nós vamos relançar esse CD de Célia e Celma, e já temos uma equipe multidisciplinar que irá trabalhar conosco para que nós possamos ter com a do decreto agora, mais tardar no mês de maio, a etapa de Minas Gerais, nós temos uma etapa de Minas Gerais para organizar um outro dossiê apresentando, há uma aprovação em Minas Gerais do reconhecimento no Estado de Minas Gerais, depois há uma aprovação no IPHAN e no Ministério da Cultura para seguir para a UNESCO para que seja reconhecido como patrimônio da humanidade. Tendo em vista que é uma das músicas mais tocadas na história, é reconhecida em várias regiões do planeta como um hino nacional, várias pessoas que eu conheço e que tem uma relação de trabalho no exterior enxergam Aquarela do Brasil como um hino brasileiro, e uma das particularidades da Aquarela do Brasil, que eu estou escrevendo a interpretação que faz parte do documento do dossiê, é que o Ary Barroso traz um conceito de discussão de um Brasil brasileiro, com a figura do índio, com a figura do negro, porque até a Semana de Arte Moderna de 1922, nós discutimos um Brasil, mas com a visão eurocêntrica, falávamos até, tudo era francês, tudo que remetia ao Brasil falava na língua sa, a língua inglesa foi depois da Segunda Guerra Mundial, então nós tínhamos uma visão de Brasil, mas uma visão eurocêntrica.

Então, a partir da Semana de Arte Moderna, traz o Ary Barroso, através da Aquarela, um Brasil negro, um Brasil indígena, um Brasil multirracial e multicultural. E é até mal interpretado, porque ele fala desse Brasil multirracial, e é mal interpretado. Então, nós estamos fazendo a interpretação da Aquarela, há também uma discussão, uma narrativa falsa, de que ele nunca escreveu músicas para Ubá, já escreveu várias músicas para Ubá, e na pesquisa para a interpretação do Aquarela, que faz parte do material, quando ele faz alusão ao Congado, ele fala do Congado de Ubá, porque ele tinha uma relação de amizade com todos os membros do Congado, então, ele tinha um carinho muito grande, tinha um amor, uma paixão muito grande por Ubá, e, para finalizar, ele tinha um carinho tão grande por Ubá, e vivia o dia a dia de Ubá, que a decisão da candidatura do Sr. Augusto Rezende, que foi prefeito de Ubá, aconteceu na cabine que ele ia narrar um jogo do Flamengo, eles foram até o Rio de Janeiro para procurá-lo, ele tinha deslocado para transmitir um jogo do Flamengo em Madureira.

Então, eles foram até a cabine, lá que eles definiram que o Sr. Augusto Rezende seria candidato a prefeito de Ubá. Então, ele foi candidato a prefeito de Ubá e ganhou a eleição. Então, há muitas histórias a serem contadas, e eu gostaria de participar aos nobres pares e pedir esse apoio para que nós possamos caminhar, porque o Memorial da Aquarela que consta no dossiê não é apenas o Memorial do Ary Barroso.

Eu fiz questão de colocar no dossiê o Memorial do Ary Barroso e artistas ubaenses, que aí a gente consegue contemplar todos os artistas, desde João Ernesto até Célia e Celma. Eu agradeço a atenção do presidente e dos pares. E vou deixar uma frase, finalizar com uma frase, que é muito pertinente: “Que a falta de bens materiais é ruim, mas a pobreza espiritual é mortífera”. Exaltou o Professor José do Carmo

Veja na íntegra a fala do Professor José do Carmo: